MARTHA PAGY ESCRITÓRIO DE ARTE
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  • Desaguar, 2022
    carvão sobre tela
    153x148 cm – com moldura

  • Conquista, 2022
    carvão sobre tela
    110x157 cm – com moldura

  • Tornar-se um, 2022
    carvão sobre tela
    157x110 cm – com moldura

  • Mergulho, 2022
    carvão sobre tela
    100x157 cm – com moldura

  • Desaguar 2, 2022
    carvão sobre tela
    110x110 cm – com moldura

  • Sem título, 2022
    carvão sobre tela
    115x82 cm – sem moldura

  • Deixa levar, 2022
    carvão sobre tela
    100x76 cm – com moldura

  • Coagula, 2022
    carvão sobre tela
    107x76 cm – com moldura

  • Entrega, 2022
    carvão sobre tela
    98x78 cm – com moldura

  • Solve, 2022
    carvão sobre tela
    107x76 cm – com moldura

  • Enxurrada, 2022
    carvão sobre tela
    78x86 cm – com moldura

  • Dilúvio, 2022
    carvão sobre tela
    60x90 cm – com moldura

  • Redemoinho II, 2022
    carvão sobre tela
    62x78 cm – com moldura

  • Redemoinho I, 2022
    carvão sobre tela
    62x78 cm – com moldura

  • Sem título, 2022
    carvão sobre tela
    60x65 cm – com moldura

  • Sem título, 2022
    carvão sobre tela
    60x60 cm – com moldura

  • Torrente, 2022
    carvão sobre tela
    60x60 cm – com moldura

  • Mulher, 2022
    carvão sobre tela
    100x83 cm

  • Sem título, 2022
    carvão sobre tela
    80x53 cm – com moldura

  • Sem título, 2022
    carvão sobre tela
    65x52 cm – com moldura

DESAGUAR_____________________Thainan Castro

A piscina por algum tempo foi um novo habitat. A densidade líquida daquele ambiente me sustentava mais que o ar atmosférico. Ao mesmo tempo que ela amparava meu corpo naquele quadrado cheio d'água, gerava uma carga que me demandava força para exercer o movimento. Mas a fluidez da água ao mesmo tempo que era carga era também meio, era motor. Por várias vezes me peguei tão à vontade naquele ambiente que já não o sentia como cheio d'água e sim como um grande “vazio”, um novo vazio que me sustentava, me possibilitava ficar em pé e me sentir em cinesia novamente.

Esta série de desenhos começou pelo interesse de descrever de alguma forma esse movimento na água durante um longo período de fisioterapia. Os corpos, a ideia do movimento, o rastro, o reflexo... Tudo me chamava atenção. Tudo era diferente do meio “normal” que vivemos e era novidade novamente. Por mais que eu já tivesse tido contato com mares e piscinas antes, nunca tinha parado para observar outras particularidades da água que me sustentava nesses lugares.

Esses trabalhos têm se desdobrado cada vez mais como um exercício de observar que talvez não seja mais pela busca de uma técnica acadêmica ou perfeccionista e seus detalhes. Essa busca me fazia sentido em outro momento, quando procurava alcançar por outros meios esses caminhos, essa sensação de movimento que a água sugere.

Os desenhos são majoritariamente em carvão, um material denso, que precisa de pressão para ficar no papel, e ao mesmo tempo frágil, que esfumaça, apaga, some com facilidade, mas deixa rastros.

E de um tempo para cá, a água entrou como materialidade no processo e não mais só como tema. A água reage com o carvão. Reage fisicamente pois tira ele do repouso, do que já ficou mineralmente preso na tela e faz ele dançar novamente pela superfície. E deixa outros testemunhos por onde passa. O carvão se redeposita aos poucos, mas agora no tempo da água. E por mais que a gente tente se impor a ela, domar e mostrar o caminho, em algum momento a água corre por si só, para onde deseja.

O corpo tem 70% de água. Talvez daí saia parte do que escorre.

O corpo humano tem cerca de 20% de carbono em sua constituição. Principalmente nas células gorduras, carboidratos e proteínas. Daí vem boa parte da energia que usamos para nos movimentar.
O carbono é o principal elemento do carvão mineral. Talvez daí saia parte do que fica como rastro, como resíduo de movimento.

Tem sido também parte do processo aprender a respeitar o tempo do material. O tempo que leva para a água andar, cansar, secar e enfim descansar os resquícios do que já foi em algum momento o traço pensado. Tempo esse que é de outra urgência. E daí então posso continuar a conversa em cima desse trajeto incerto que a água sugere.

"Desaguar" é uma forma muito particular de lembrar e reaprender os movimentos e o tempo das coisas, seja pelo meio, seja pelo suor para dar o próximo passo, o próximo traço. De lembrar que é preciso combustível e água para fluir.



Thainan Castro, nascido em 1990 no Rio de Janeiro - Brasil, é artista visual formado em design pela PUC-Rio. Sua investigação fala sobre memória: do desdobrar do seu processo de desenho através de uma recuperação física depois de um acidente que lhe tirou temporariamente os movimentos, da busca de instantes ordinários em seus caminhos pela cidade, dos lugares que passa, e de lembranças de outros momentos já vividos. Procura resgatar reminiscências de modo a criar um universo lúdico e nostálgico, revisitando em si histórias que possam conversar também com outras pessoas, convidando o espectador a criar relações particulares com a obra, como parte daqueles momentos. Thainan foi indicado ao Premio PIPA 2021.